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Grupo é pago para aplaudir deputados na Câmara Federal

Na noite da última terça-feira, às 22h, logo após o fim da sessão que aprovou mudanças na chamada lei dos caminhoneiros, um grupo de 30 pessoas foi flagrado pelo Correio recebendo dinheiro nos corredores do 10° andar do Anexo IV da Câmara dos Deputados. Minutos antes, parte daqueles mesmos personagens ocupou as galerias da Casa para aplaudir cada um dos parlamentares que apoiou o texto sobre a ampliação da jornada de trabalho para os motoristas. A cena do pagamento foi documentada em vídeos e fotos pela equipe do jornal, que acabou hostilizada por servidores com crachás da Câmara, responsáveis pela distribuição de notas de R$ 50 e de R$ 20 para a claque.

O repasse do dinheiro começou na chapelaria do Congresso, de onde o grupo se dirigiu ao gabinete do deputado Nelson Marquezelli (PTB-SP), de número 920, no 9º andar do Anexo IV da Câmara. Marquezelli presidiu a comissão especial que analisou o projeto na Casa. Ele também foi o escolhido para fazer a defesa da proposta antes da votação no plenário, momento em que foi bastante aplaudido pela claque, conforme registro em vídeo disponível no portal da Câmara. Várias das pessoas vistas na galeria da Casa chegaram a entrar no gabinete de Marquezelli, que estava aberto.

No escritório do petebista, o grupo foi orientado por funcionários a subir para o 10° andar. Lá, foram recebidos por pessoas com crachás da Câmara. Uma fila acabou formada em frente aos funcionários, que dispunham de uma lista de nomes, calculadora e um pequeno bolo de dinheiro em notas de R$ 50 e de R$ 20. Não foi possível determinar o montante recebido por cada um nem a origem dos recursos.

Após ser interrompida pela filmagem, a distribuição continuou no estacionamento em frente ao Anexo IV. Um dos integrantes da claque chegou a ameaçar a reportagem. “Quer perder seu celular?”, perguntou o homem, em meio a uma série de palavrões.

Nelson Marquezelli disse desconhecer o fato. “Estou até estranhando isso que você está falando. Fazendo o quê? Eu não sabia disso não. Denuncia isso! No meu gabinete? Mas quem estava fazendo isso?” O deputado também disse que o grupo poderia ser formado por sindicalistas. “Ontem (terça), foi a votação do projeto dos caminhoneiros, e há muitos sindicatos que vieram. Estou ouvindo de você agora, não estou entendendo o que está acontecendo”, afirmou. Marquezelli não mudou de postura depois de informado sobre o vídeo. “Eu acho que é mentira o que você está falando. Só posso achar isso.”

Os ocupantes da galeria não estavam identificados como integrantes de qualquer central sindical. Nas faixas também não havia logomarcas. O presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes (CNTT-CUT), Paulo João Eustasia, disse que participou dos debates sobre o projeto, mas não havia qualquer sindicalista ou trabalhador ligado à entidade na Câmara anteontem. “Nós participamos das articulações, mas não tinha ninguém nosso lá na terça”, contou. “Antes da Páscoa, trouxemos cerca de 200 pessoas para as galerias do plenário, mas o projeto não foi votado naquela ocasião. Ali eram caminhoneiros, sindicalistas da área, trabalhadores do transporte público aqui do DF”, comentou o dirigente sindical.

“Fora do comum”
O diretor-geral da Câmara, Mozart Vianna, estranhou a movimentação no Anexo IV, considerada “atípica”. “Institucionalmente, esse fato não tem nada a ver com a Câmara, mas, sem dúvida, é algo fora do comum. Caberia à segurança, por exemplo, ter tentado averiguar do que se tratava”, disse. “A rigor, o regimento não traz nada a respeito dessa questão”, completou. Consultores jurídicos do quadro da Casa destacaram que a questão também não é prevista no Código de Ética dos parlamentares. “É uma avaliação subjetiva apurar se houve ou não falta ética nesse caso”, disse um profissional.
Colaborou Amanda Almeida

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