OIMDC, organização que está no centro das denúncias da Operação Esopo, da Polícia Federal, brigava por recursos públicos em nove áreas de ação, propondo-se a realizar atividades de alfabetização e recuperação de áreas degradadas, shows, assistência médica a gestantes, saúde bucal e qualificação profissional. Relatórios da operação mostram que sua ação se baseava em regra admitida pelo vice-presidente da Oscip e ex-gerente jurídico da Federação das Indústrias de Minas (Fiemg), Tácito Avelar e Silva: “Você não faz nada se não tiver dinheiro na frente” disse a uma interlocutora em intercep-tação telefônica feita pela PF com autorização da Justiça.
Na conversa, de junho de 2012, Tácito ouve elogios a Fernando Decnop, funcionário do Ministério do Trabalho que viajou o país em defesa dos interesses do IMDC e que, para sua interlocutora, deveria “ser abençoado por Deus, embora algumas coisas dele sejam escusas” Esse diálogo é considerado pela PF um dos indícios de fraude para obtenção de contratos do ProJovem no Ceará e em Minas Gerais. O escândalo das Oscips derrubou cinco integrantes da cúpula do ministério. O único envolvido ainda preso é Deivson Vidal, presidente do IMDC.
Dinheiro do ministério também foi desviado para entidades do sistema Fiemg, que contratavam o IMDC sem licitação, segundo outro relatório apresentado à Justiça. A Oscip recebeu recursos para executar duas edições do Minas Trend Preview, evento de moda, em 2010. Um termo de cooperação previa o repasse de R$ 13,8 milhões para duas edições do evento. A PF considerou atípico o resultado da análise dos extratos bancários do sistema Fiemg, que atestaram um valor final bem maior em repasses: R$ 21,9 milhões.
Os investigadores afirmam que o 1MDC superfaturou o pagamento a fornecedores para desviar verba. Para prestar contas, a Oscip apresentou notas repetidas. Uma das empresas usadas foi a VMB Locadora de Veículos, que pertence a Simone Vasconcelos. Ex-diretora financeira de Marcos Valério, ela foi condenada pelo Supremo tribunal Federal (STF) a 12 anos e sete meses de prisão no julgamento do mensalão. Em julho do ano passado, O GLOBO publicou que Simone recebeu R$ 448,4 milhões da Fiemg, por meio do 1MDC.
Ao telefone, o diretor financeiro do IMDC, Daniel Amaral, surpreende-se com o valor pago à empresa de Simone. “Que transporte é esse? E jato, é navio? Quantas mil pessoas que transportou?” diz, após receber ligação do GLOBO com pedido de informações sobre o caso. Os grampos detalham a preocupação do fiincionário em forjar um orçamento para explicar ao jornal o pagamento à VMB. E relata pedido da Fiemg para que a entidade não fosse envolvida ou citada no caso pelo IMDC.
O investimento da Fiemg no evento foi apurado pela Controladoria Geral da União, por envolver verbas federais. Uma figura central da relação entre Fiemg e IMDC é Tácito. Em janeiro de 2010, ele emitiu parecer em defesa da “dispensa e a inexibili-dade de licitação” para a contração do IMDC pela Fiemg, em função de “notória especialização” Mas a Oscip nunca tinha feito eventos de moda, segundo a PF.
A Fiemg informou que a diferença entre valores pactuados e gastos com o Minas Trend diz respeito “à participação das demais entidades na realização dos eventos” Afirmou que pautava seus procedimentos de contratação “na observância dos quesitos de qualidade, preço e habilitação legal” Tácito não retornou a pedido de entrevista.