O delegado Marcos Neves, titular da delegacia de Braz de Pina (38ºDP), pediu nesta terça à Justiça a produção antecipada de provas sobre o seqüestro de oito jovens de Vigário Geral, há uma semana, atribuída a traficantes da favela vizinha de Parada de Lucas. As duas favelas da zona norte do Rio são dominadas por facções criminosas rivais. De acordo com o delegado, o objetivo é fazer com que o depoimento na Justiça do menor detido como participante da incursão dos bandidos a Vigário seja caracterizado como prova. O adolescente de 16 anos já disse que o ataque foi planejado por bandidos da favela Parada de Lucas liderados pelo traficante Jorge Willians Oliveira Bento, o Furica, com a ajuda de policiais militares do posto de policiamento local.
O menor deve ser ouvido no Fórum na quarta, onde também acontecerá uma sessão de reconhecimento de policiais militares lotados no posto de Lucas e que podem ter ajudado os traficantes na ação. Na semana passada, o jovem já havia reconhecido um deles. O delegado, no entanto, praticamente descarta que PMs tenham participado diretamente do seqüestro. Neves acredita que eles tenham apenas criado uma operação para convocar o blindado da corporação e impedir a reação dos bandidos de Vigário à invasão dos rivais de Lucas. Em depoimento, o menor afirmou que os PMs receberam R$ 50 mil por isso, mas o delegado ressaltou que o depoimento dele é frágil.
O delegado marcou para quinta-feira a reconstituição do seqüestro, que contará com a participação do menor e dos policiais militares do posto local. A partir de sexta-feira, o inquérito será desmembrado em duas partes. A primeira, a cargo de Neves, vai investigar a associação para o tráfico de drogas. O desaparecimento dos jovens ficará a cargo da Delegacia de Homicídios. O delegado também deve pedir até sexta-feira a prisão de Furica e outros seis comparsas já identificados pela investigação.
Nesta terça, policiais militares do Batalhão de Olaria (16ºBPM), fizeram novas buscas em Lucas com a ajuda da Companhia Independente de Cães da PM, mas os oito rapazes desaparecidos não foram encontrados. Mesmo sem os corpos, o delegado Neves já trabalha no inquérito com tortura e homicídio qualificado, baseado nos depoimentos que tomou de moradores das duas favelas. “Já temos elementos para dizer que eles morreram, embora sempre exista a possibilidade de estarem vivos. Verificamos na segunda-feira uma denúncia de que eles estavam vivos numa marmoraria em Lucas, mas não encontramos nada lá”.