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Carandiru: maior indenização foi para carcereiro

Houve casos em que os pais morreram antes de ter uma resposta

Os danos morais e materiais sofridos por um carcereiro que ficou traumatizado após testemunhar o massacre na Casa de Detenção do Carandiru foram considerados pela Justiça mais graves do que os provocado sãos familiares dos mortos, se considerados os valores concedidos pelo Tribunal de Justiça de São Paulo(TJ-SP). Em outubro de 1992, 111 presos rebelados no pavilhão 9 foram mortos.

Em fevereiro deste ano, um acórdão definiu em R$ 576.530 a indenização para Edson S., agente penitenciário que trabalhava em 1992 no pavilhão 8, vizinho aopavilhão9.Noprocesso,ocar-cereiro alegou que os transtornos psíquicos depois da chacina o impediram de trabalhar.

No caso dos familiares dos presos (pais, mães, filhos e companheiras), segundo levantamento feito Núcleo de Estudos sobre o Crime e a Pena, do Direito da Fundação Getúlio Vargas, que o Estado teve acesso, os valores variaram, em sua maioria, entre 100 e 200 salários mínimos (R$ 67,8mileR$135milseconsidera-dos os valores de hoje).

Conforme o estudo, os familiares começaram a ingressar com pedidos de indenização entre 1993 e 1996. Somente em 2011 as indenizações ficaram disponíveis. “Houve casos em que os pais morreram antes de ter uma resposta”, explicam as pesquisadoras Maíra Rocha Machado e Marta Rodriguez, que participaram do levantamento.

Além das responsabilidades civis, na próxima segunda-feira a Justiça começa a julgar as responsabilidades criminais dos participantes da invasão. Serão julgados 26 policiais que estavam no 2.º pavimento do pavilhão 9, segundo a denúncia do

Ministério Público Estadual. Eles são acusados de matar 15 pessoas. Os promotores apontam que os outros 96 presos foram mortos em outros andares. Os demais réus, policiais que estavam nos outros três andares, serão julgados separadamente.

1 salário mínimo. No estudo sobre as indenizações, os pesquisadores encontraram 72processos de indenização na Justiça, mas tiveram acesso às informações de 67 casos. A Justiça considerou procedente 64 processos, em que a responsabilidade civil do Estado foi reconhecida. Atualmente, 38 processos tiveram os valores de indenização liberados aos familiares dos presos.

O maior valor concedido foi de R$ 287,8 mil. No outro extremo, houve família indenizada em apenas um salário mínimo, valor atribuído pelo juiz apenas aos danos morais.

A defensora pública Amanda Pontes de Siqueira, que acompanhou na Fazenda Pública o processo dos familiares dos presos, calcula que pelo menos 26 famílias já tiveram acesso ao dinheiro. E afirma que muitas delas acabam desistindo de acompanhar o processo por causa da demora na Justiça.”Alguns acabam abandonando. Esses momentos (antes do julgamento) são importantes para chamar a atenção de alguns familiares e chamá-los a virem à defensoria e acompanhar o andamento dos casos. Pode ser que o dinheiro já esteja disponível, mesmo que ele não saiba”, afirma a defensora pública.

O advogado Fábio Possídio Egashira, especialista em danos morais, afirma que a diferença no valor da indenização depende muitas vezes das provas técnicas apresentadas no processo. “Caso o autor tenha muitos filhos e teve de interromper um trabalho em que ganhava bem, os danos materiais podem ser mais altos do que alguém que estava preso.”

A professora Marta Rodriguez, no entanto, pondera que no caso do Carandiru, os danos morais deveriam ser mais valorizados. Em 11 dos 64 casos, o Tribunal de Justiça reduziu o valor que havia sido atribuído na primeira instância. Em geral, os argumentos foram três: comportamento criminoso do falecido; ausência de contribuição para manutenção da casa, porque estava preso e ausência de prova de que a vítima exercia trabalho lícito e regular antes da prisão.

PARA LEMBRAR

Em outubro de 1992, uma rebelião no Pavilhão 9 terminou com 111 detentos mortos e 130 feridos. Iniciado logo após o almoço, depois de uma briga entre dois presos rivais, o motim foi sufocado pela Polícia Militar. Trinta e dois policiais ficaram feridos. O confronto deixou corpos dilacerados, detentos implorando por socorro, canos estourados, água e sangue por todos os lados e a ala completamente destruída. O pavilhão só foi reaberto 18 meses depois, em 1994. Os julgamentos dos acusados serão feitos separadamente, conforme o andar do processo. Na segunda, são julgados 26 PMs acusados de 15 mortes no 2.º pavimento.

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