O próximo presidente do PT, que será eleito em novembro, não deve criar constrangimentos ao Palácio do Planalto com críticas ao senador José Sarney (PMDB-AP) nem à política de alianças que trocaria petistas por membros de outros partidos nas disputas de governos estaduais em 2010. Os candidatos das principais correntes que concorrem na votação interna consideram o apoio do PMDB essencial tanto para a governabilidade e como para a vitória da petista Dilma Rousseff nas eleições presidenciais do ano que vem.
O UOL Notícias entrevistou cinco dos seis candidatos à presidência do Diretório Nacional do PT – o favorito José Eduardo Dutra, da corrente Construindo Um Novo Brasil, preferiu não dar declarações enquanto não deixar a presidência da estatal BR Distribuidora. Mesmo assim, o atual presidente do partido, deputado Ricardo Berzoini (SP), afirma que a vitória do seu companheiro de tendência, de preferência no primeiro turno, ajudaria o partido a eleger Dilma, manter seus cinco governadores e, a partir daí, ampliar sua base.
“Para isso, é necessário reforçar a aliança com a atual base governista. Essa deve ser uma meta do PT. O PMDB, por exemplo, tem lideranças políticas regionais importantes e há Estados em que o PT pode fazer aliança. É algo que tem naturalidade, tem coerência política, passando pela eleição interna do partido”, afirmou, depois de perguntado sobre a importância de Sarney e outros próceres peemedebistas para a disputa presidencial.
Dutra, ex-senador por Sergipe e ex-presidente da Petrobras, deverá ter apoio de mais duas correntes internas já no primeiro turno – a PT de Lutas e Massas, ligada à ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy, e a Novos Rumos, do deputado Cândido Vacarezza (SP), próximo do ex-ministro da Casa Civil e deputado cassado José Dirceu. “Na minha eleição eu não tinha todo esse apoio. O Dutra tem o perfil de que o PT precisa para formar um quadro vitorioso para as eleições de 2010”, disse Berzoini, ex-ministro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e afinado com o Palácio do Planalto.
O principal adversário de Dutra na eleição, o deputado José Eduardo Cardozo (SP), também é favorável à proximidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o presidente do Senado. Para ele, os ataques a Sarney – acusado de privilegiar parentes e assessores em indicações para cargos e de fechar os olhos para o uso indevido de recursos públicos por parlamentares – servem apenas para “desviar o foco da falta de discurso da oposição”.
“Todas as forças políticas que estão ao redor do governo Lula são importantes para o processo do ano que vem. O PMDB é um partido importante, tem densidade eleitoral e capilaridade. É natural que busquemos diálogo com os líderes do partido”, afirmou Cardozo, vinculado à corrente Mensagem ao Partido, a mesma do ministro da Justiça, Tarso Genro.
“A questão do Sarney tem de ser tratada como um capítulo à parte, não deve interferir nessa construção da aliança. Mas não podemos deixar de notar que, embora desejemos todos os esclarecimentos necessários, a oposição não tem discurso e busca criar incômodos ao governo, à governabilidade”, completou ele, que negou os relatos de que assumiria o Ministério da Justiça caso Genro deixe a pasta para disputar o governo do Rio Grande do Sul – o prazo de desincompatibilização vence depois das eleições internas do PT.
[b]Moderação
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Candidatos de duas tendências minoritárias fazem defesa menos entusiasmada da aliança do governo Lula com representantes de uma política que consideram conservadora e distante das classes populares. O deputado Geraldo Magela (DF), do Movimento PT, desconversou sobre a proximidade do governo com Sarney, criticado agora até por senadores petistas, e afirmou que o importante é “pensar no futuro”. Por isso mesmo, é mais reticente sobre substituir petistas na cabeça de chapa por membros de outros partidos.
“A governabilidade, o PMDB e os partidos que fazem a coalizão são muito importantes. No processo eleitoral, é preciso fazer uma aliança forte sem anular o PT. Queremos uma aliança que garanta a eleição da nossa candidata e a governabilidade depois. O PT tem força suficiente em muitos Estados para sair vitorioso, por isso defendemos candidaturas próprias”, disse.
Para deputada Iriny Lopes (PT-ES), candidata pela corrente Articulação de Esquerda, o partido precisa reconstituir uma sólida aliança com os partidos de esquerda, mesmo que eles não tragam tantos votos no Congresso. “Isso não significa que o PT não deva buscar o apoio do PMDB, que é um aliado importante. Mas não podemos mais apostar todas as fichas no mesmo partido, de maneira quase exclusiva, sob o risco de perdemos a ligação com as classes populares”, avalia. “Precisamos estreitar relações com PDT, PSB, PCdoB, legendas que sempre defenderam bandeiras semelhantes às nossas”.
Sobre a crise no Senado, ela mostra desconforto. “É imprescindível uma investigação criteriosa das denúncias, doa a quem doer. Sempre que o investigado possui uma posição de comando, como neste caso, causa estranheza que ele permaneça”, afirma. “Mas entendo o empenho do presidente Lula de evitar uma mudança e uma disputa política no Senado a um ano das eleições. A oposição só quer desestabilizar um governo popular, que tem dado respostas às históricas demandas sociais do país. Daí esse denuncismo irresponsável. Desde o início do governo é assim.”
[b]Dissonantes
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Militante histórico do PT, Markus Sokol, da chapa Terra, Trabalho e Soberania, não poupa críticas a Sarney nem às alianças que o partido tem feito para governar – agiu da mesma maneira em 2002 e em 2006. Ele se diz surpreso com a falta de reação da direção da sigla às denúncias contra o presidente do Senado e vê na proximidade entre ele e Lula um problema sério para os petistas.
“Essa política nacional de alianças afastou o partido das suas bases. A governabilidade construída a quatro paredes contribuiu para isso. São alianças que afetam a todos no partido: essa política não privilegia nem atrapalha conforme a sua ala. É algo que agride ao PT como instituição”, comentou. “Nessa eleição para a presidência do partido eu não vejo outro nome além do meu capaz de conduzir o PT conforme a sua trajetória.”
Candidato pela tendência Esquerda Marxista, criada em abril de 2007, Serge Goulart critica o esforço de Lula para costurar e manter alianças com o que chama de “partidos burgueses”. “O PT precisa romper imediatamente com o PMDB e qualquer outra legenda que não tem um compromisso histórico com o socialismo”, avalia.
“Lula dá sustentação ao Sarney porque o governo depende do PMDB para governar. Mas, ao fazer isso, se afasta do povo. Hugo Chávez [presidente da Venezuela], ao eleger-se pela primeira vez, não tinha mais de 37% dos votos e meia dúzia de parlamentares. Sem ceder aos partidos de direita, hoje tem a maioria dos votos e domina o Parlamento.”
As eleições internas do PT serão realizadas dia 22 de novembro