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Detento narra compra de voto em presídio de Cuiabá

Presidiário foi ouvido pelo promotor de Justiça, Marcos Machado, no final do ano passado e em janeiro fugiu do Sistema Penitenciário

O depoimento do detento Willian David Silva, de 31 anos, ao Ministério Público Eleitoral (MPE) revela as entranhas da campanha eleitoral do então candidato a vereador Ralf Leite (PRTB), que está sendo investigado pela Comissão de Ética da Câmara de Cuiabá. Willian fugiu da cadeia no dia 6 de janeiro.
O testemunho mostra em detalhes como o candidato fez captação ilegal de sufrágio, utilizando-se do poder econômico e da estrutura do Hospital Militar – do qual o pai é diretor – e como tentou comprar o silêncio da testemunha. Por meio de Willian, Ralf Leite conseguiu, conforme o depoimento do preso, o apoio de familiares de 40 detentos em troca de benesses.
Além da comprovação da compra de votos, o depoimento expõe uma situação inusitada, uma vez que os créditos telefônicos, segundo a polícia, foram destinados para os celulares dos próprios detentos. “O uso de aparelhos nos presídios é proibido, mas é através deles que os presos planejam crimes de roubos, seqüestros e golpes”, explica um policial da Gerência de Inteligência Policial (GIP).
O depoimento de Willian ao promotor eleitoral Marcos Machado, no dia 27 de novembro do ano passado, dentro do presídio do Carumbé e com o testemunho de cinco pessoas, se transformou numa prova de compra de votos que o MPE tem contra Ralf Leite, o que poderá custar o seu mandato. O depoimento consta no processo eleitoral 563/09 da 37ª Zona Eleitoral.
Em seu relato, Willian explica que ficou com R$ 4 mil para fazer a campanha eleitoral. Ele conta também que, após a eleição – quando o Ministério Público já investigava a suspeita de compra de votos – recebeu a proposta de R$ 20 mil para negar a ligação com Ralf Leite. “A oferta foi de R$ 5 mil antes (do depoimento) e mais R$ 15 mil depois do depoimento”, diz o depoimento.
Willian afirma que falou por telefone do Carumbé, onde estava preso, através de outro detento, Kartegean Moraes Leão, que também teria feito campanha para o então candidato. “O Ralf me pediu para eu conseguir votos para ele de familiares de presos, mediante dinheiro e cartões telefônicos”, destaca.
Willian afirma em seu depoimento que aceitou a oferta e orientou um assessor de Ralf, identificado como Val, a distribuir cerca de R$ 4 mil em dinheiro para familiares de 40 presos que aceitassem ajudá-lo a conseguir votos para Ralf. Ainda recebeu como pagamento vários cartões telefônicos que foram distribuídos entre os presos para que ligassem a seus familiares e fizessem o pedido para votar no candidato.
Outro trecho do depoimento diz que Ralf fez várias ligações nos celulares dos presos para falar com Willian e acertar os detalhes. O detento afirma que o assessor de Ralf entregou o dinheiro. “Passada as eleições, não houve mais contatos com o vereador eleito”. A situação então mudou.
Já no dia 19 de novembro, Willian relata ter recebido uma ligação do celular de um preso da Penitenciária Central do Estado. Era uma oferta de R$ 20 mil para negar que tenha comprado votos para Ralf. Willian chegou a receber R$ 1.250, além de assistência médica do Hospital Militar, coordenado pela Caixa de Assistência e Previdência (CPA) da PM, cujo comandante é o pai de Ralf, coronel Edson Leite.
Passados cinco dias, o assessor do vereador foi buscar a companheira de Willian para fazer exame no Hospital Militar e dar entrada nos papéis de um plano de saúde do próprio Hospital. No dia seguinte, recebeu uma ligação de uma advogada e do assessor de Ralf, que chegou com R$ 250 para que o detento mantivesse o compromisso de que não conhecia o vereador. “Eu tinha que dizer que não votava em Cuiabá e sim em Goiânia”.
“Era para eu ficar tranqüilo que ao lado dele (Ralf) estava um desembargador e um coronel”, relata. O coronel seria o próprio pai do vereador, mas não soube explicar quem seria o integrante do Tribunal de Justiça. É possível que Leite tenha mencionado um desembargador apenas para impressionar o interlocutor. No dia 26 de novembro, conforme o depoimento, recebeu R$ 500 da advogada de Ralf Leite. Durante a conversa com a advogada, ele disse que uma pessoa fora do presídio estava “complicando sua vida”.
A advogada chegou a indagar ao detento se ele queria que desse fim ao seu desafeto. Seria prova de que o grupo de Ralf estava do lado dele. Para melhorar a situação de Willian, a advogada pediu para que ele desistisse da atual advogada porque ela iria tirá-lo da prisão em 20 dias. Impressionado com o esquema, o detento falou com sua advogada, que achou por bem informar ao MPE.
Diante da situação, Willian pediu garantias de vida e exigiu que fosse transferido. No dia 4 de dezembro, foi levado para o Anexo I da Penitenciária Central do Estado, no bairro Centro América, de onde fugiu no dia 6 de janeiro.


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