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Gravação mostra tráfico de influência na eleição do TJ da Bahia

Diálogo entre arquiteto e advogado revela bastidores do pleito que elegeu o desembargador Benito Figueiredo. O arquiteto Fernando Frank mostra, no diálogo com o irmão do desembargador Dultra Cintra, Luciano Cintra, o tráfico de influência na eleição do desembargador Benito Figueiredo.

Diálogo entre arquiteto e advogado revela bastidores do pleito que elegeu o desembargador Benito Figueiredo. O arquiteto Fernando Frank mostra, no diálogo com o irmão do desembargador Dultra Cintra, Luciano Cintra, o tráfico de influência na eleição do desembargador Benito Figueiredo.

Tráfico de influência, negócios escusos, jogo de interesses e conchavos pouco éticos marcaram a eleição do desembargador Benito Figueiredo para a presidência do Tribunal de Justiça da Bahia. É o que revela a gravação de um diálogo, distribuída pela internet, entre dois personagens estranhos ao poder Judiciário: o milionário arquiteto baiano Fernando Frank e Luciano Cintra, irmão do desembargador Carlos Alberto Dultra Cintra, presidente do Tribunal Regional Eleitoral e comandante da Justiça baiana, que se supõe ocorreu às vésperas da eleição.

O diálogo, identificado como “furo” e enviado para dezenas de jornalistas e veículos de comunicação por um remetente identificado como “Xuxu TooMuch” se constitui em um escândalo que afeta a imagem do Tribunal de Justiça da Bahia e deixa numa situação delicada e constrangedora inúmeros desembargadores, entre os quais o presidente eleito, Benito Figueiredo.

O arquiteto Fernando Frank, um dos personagens do diálogo, é conhecido na Bahia pelas festas suntuosas que costuma promover e é reconhecidamente amigo de inúmeros desembargadores, que abrilhantam suas recepções nababescas. Foi também – e recentemente – beneficiado por decisões judiciais em ações milionárias, uma das quais contra a Petrobras, que teria lhe rendido algo em torno de R$35 milhões em indenização. A próxima festa que programou será no dia 17, a pretexto de casamento do filho, e para a qual pretende, como item de decoração – se a prefeitura deixar – transplantar palmeiras imperiais para as portas da Igreja da Conceição da Praia, onde a cerimônia será realizada.

No dia da eleição para a presidência do Tribunal de Justiça da Bahia, ele foi visto pelos gabinetes dos desembargadores e, segundo se comenta, além de cabalar votos para Benito Figueiredo, distribuía como “mimos”, alegando o espírito nataliano, anéis de brilhante para as desembargadoras, que ele, na gravação, chama de “meninas”. O seu interlocutor no diálogo, Luciano Cintra, irmão do desembargador Carlos Alberto Dultra Cintra, é advogado e diretor da Cerb, empresa do estado. Também é conhecido pela desenvoltura com que circula à sombra do irmão, oferecendo consultoria jurídica.

No diálogo, antes de tratar da eleição de Benito Figueiredo para o Tribunal de Justiça, Fernando Frank queixa-se da falta de conclusão de algum negócio com a prefeitura de Salvador, e pede a intermediação de Luciano Cintra para um encontro com João Cavalcanti, procurador geral do município. Queixa-se de que “Itamar” (certamente Itamar Batista, secretário de Planejamento de Salvador) está “a serviço de algum concorrente”, e quer “atrapalhar”. E afirma que esteve com “dona Yêda”, a mãe do prefeito, e que ela disse que “ligou para Itamar e deu-lhe um esporro”.

A segunda parte do diálogo é dedicada à eleição do Tribunal de Justiça, e Fernando Frank começa assegurando a vitória de Benito Figueiredo na disputa, e anuncia que “sua cota está fechada”. Ao ser indagado qual seria a sua cota, informa que “as meninas (desembargadoras) todas já me garantiram que vão com ele”, e cita, entre outras, Maria José Sales Pereira, Ana Maria Assemany e Aidil Silva Conceição, que inclusive teria estado em sua casa.

– Ela garantiu a mim e pediu que não se fale, por favor – informa Fernando Frank.

– E ela não tem problema com Dultra Cintra não? – questiona Luciano Cintra

– Não, ela não tem problema nenhum com Cintra, não. Ela tá fazendo o joguinho dela – retruca Frank.

O arquiteto amigo dos desembargadores prevê que Benito Figueiredo terá 22 ou 21 votos na eleição e teme pelos votos de “Paulo” e de “Sílvia” (desembargadores Paulo Furtado e Sílvia Zarif). Em seguida, o diálogo perde o sentido e se supõe tratar da eleição da Amab – Associação dos Magistrados da Bahia – e depois de volta aos negócios com a prefeitura, quando afirma que “toda a família está a favor. A mãe, o pai e toda essa gente sucumbir a esse tal de Itamar, não pode!” e acrescenta: “É `meda´”.

De volta à questão do tribunal, Frank anuncia que “vamos ganhar com folgança, meu bem”, e afirma que quer fazer o presidente do Ipraj – Instituto Pedro Ribeiro de Administração Judiciária.

– Quem vai fazer o presidente daquilo sou eu, rapaz. Eu já disse a ele: tenho candidato. O lugar é meu.

– Candidato forte – retruca Luciano Cintra

– Eu disse a ele: ou é doutor Luciano ou eu rompo. Logo no primeiro dia, parto para a oposição.

– Você é muito otimista. Mas vai dar tudo certo – afirma Luciano Cintra

– Eu tô no embalo.

Em seguida, Fernando Frank passa a traçar um perfil de Benito Figueiredo e a revelar suas limitações.

– Ele não tem pretensão futura nenhuma, tanto que vai sair no final da gestão dele, vai embora. Não tem entourage nenhuma para empresar. É lógico que deve ter uns dois ou três para empregar, mas não tem entourage. É uma pessoa perfeita para o momento. O Carlinhos vai ter que dar uma ajuda a ele, passar experiência para ele.

– Ele tem plena consciência das limitações dele como gestor. Ele tem consciência disso. Não vamos falar isso, a não ser entre nós dois. Ele tem autocrítica e ele sabe que não tem experiência administrativa. Ele é culto, talentoso, etc, mas ele sabe que vai precisar de ajuda, sim. Ele não vai deixar mandar. Ele vai precisar de aconselhamento com certeza. Ele vai precisar da ajuda de doutor Cintra, que foi presidente, um grande presidente. É um homem moço, capacitado, experimentado, tem estrutura política, coisa que Benito não tem, então ele vai precisar de ajuda com certeza. Quem vai aconselhar ele sou eu. Tenho dito que ele vai precisar da ajuda de Cintra: Cintra foi presidente, um grande presidente, é um homem que tem estrutura política, tem sensibilidade política, é articulado politicamente, ele é um homem que tem imprensa e você vai precisar desse homem. Não para ser seu alter-ego, mas ele é fundamental na sua história, dá para você fazer uma gestão administrada.

– Eu tenho dito isso cotidianamente – complementa Fernando Frank. Você tem que escolher lado sim, senhor. Você tem que escolher lado e quem está lhe fazendo é Carlos Cintra. Você está chegando lá pelas mãos de Carlos Cintra. E por uma questão de reconhecimento e gratidão e, mais ainda, porque você vai precisar da experiência dele. Nos momentos difíceis você vai ter que se aconselhar e é das luzes dele que você vai precisar para fazer uma boa administração.

A divulgação da gravação no final de semana – que exige apuração rigorosa, até porque o diálogo compromete a imagem do Judiciário e de alguns de seus desembargadores, que estariam sendo influenciados por estranhos, num processo interno de eleição -, não chega a ser uma surpresa. Isto porque, no próprio dia da eleição circularam no tribunal rumores de que todos os desembargadores teriam recebido um CD com a íntegra do diálogo.

E esse boato chegou à mídia, tanto que o radialista Mário Kertész, na última quinta-feira, na apresentação do Jornal da Bahia, na Rádio Metrópole, em tom de pilhéria, informou que o arquiteto Fernando Frank – que ele sabia que não cantava – estaria estrelando um CD que faria o maior sucesso. A informação, disse o radialista, teria chegado ao seu blog na internet. E um ouvinte, no ar, perguntou a Kertész se o tal CD de sucesso não teria nada com a indenização de R$35 milhões que o arquiteto receberá da Petrobras em ação judicial.

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